terça-feira, 20 de setembro de 2011

Soneto antigo

[Mário Faustino]

Esse estoque de amor que acumulei
Ninguém veio comprar a preço justo.
Preparei meu castelo para um rei
Que mal me olhou, passando, e a quanto custo.
Meu tesouro amoroso há muito as traças
Comeram, secundadas por ladrões.
A luz abandonou as ondas lassas
De refletir um sol que só se põe
Sozinho. Agora vou por meus infernos
Sem fantasma buscar entre fantasmas.
E marcho contra o vento, sobre eternos
Desertos sem retorno, onde olharás
Mas sem o ver, estrela cega, o rastro
Que até aqui deixei, seguindo um astro.

 







Mário Faustino dos Santos e Silva (Teresina, 22 de outubro de 1930 - Lima, Peru, 27 de novembro de 1962) - Além de poeta foi crítico, tradutor e jornalista. Ficou muito conhecido por seu trabalho de divulgação da poesia no Jornal do Brasil quando assinava o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, na seção Poesia-Experiência. Publicou apenas um livro de poesia, O Homem e sua Hora (1955). Morreu prematuramente vítima de um desastre aéreo.

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