domingo, 29 de janeiro de 2012

Soneto

[Alberto da Costa e Silva]




Alto me sonho, mas sou apenas homem:
alguns dias, a infância desterrada
em outro ser (e o ar que as mãos agarram
se vai movendo em nós, respiro fraco

com que me gasto, calmo, rês, mudado
no tempo em que me faço e me desfaço,
humilde, cego, em lágrimas sangrado,
passagem de luar, bicho deserto)

que sente, alguma vez, a despenhar-se
o espaço nas coisas, grande, alado,
ou sobre mim, em mim, no ser atado

à vida, à terra, a este adeus cortado,
e vê o mundo a reerger-se, aberto,
no refino da espera de um abraço.


[in Poemas reunidos, Rio de Janeiro: Nova Fronteira : FBN, 2000. p.89]

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