domingo, 12 de fevereiro de 2012

um lobo

[Jorge Luis Borges]


Furtivo e cinza na penumbra última,
vai deixando seus rastros pela margem
daquele rio sem nome que saciou
a sede de sua goela e cujas águas
não repetem estrelas. Esta noite,
o lobo é uma sombra que está só
e que busca uma fêmea e sente frio.
É o último lobo da Inglaterra.
Sabem-no Odin e Thor. Em sua alta
casa de pedra um rei determinou
que acabassem com os lobos. Já forjado
está o forte ferro de tua morte.
Lobo saxônico, engendraste em vão.
Não basta ser cruel. Tu és o último.
A mil anos daqui um homem velho
te sonhará na América. De nada
há de servir-te esse futuro sonho.
Hoje te cercam os homens que seguiram
floresta afora os ratros que deixaste,
furtivo e cinza na penumbra última.



Tradução de Heloisa Jahn
[in Atlas, São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p.21]


Nenhum comentário: