sexta-feira, 20 de abril de 2012

4 poemas de Eugénio de Andrade

Litania


O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;



O triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece:
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece



navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor dum fruto, o peso duma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror;



são a grande razão, a única razão.


*


No brilho redondo

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.




*



À breve, azul cantilena

À breve, azul cantilena
 dos teus olhos quando anoitecem.



*



De palavra em palavra

De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos

e canta
o êxtase do dia.  


Nenhum comentário: