quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Marujo, Paulo Veras

Marujo
Paulo Veras


Dentro da minha casa
acolho uma velhice
que me acompanha desde que nasci

O copo de prata de vovó
com seus lábios bordados na borda
Os olhos de uma tia morta
a vigiar-me da moldura oval
A bengala de meu avô
incentivando-me o passeio na calçada
A fruteira de vidro verde
(com frutas de cera)
a decepar-me o apetite
O aparelho de jantar azul
a fornecer-me a penumbra e a sopa
das seis da tarde

Na beira do rio
tem quermesse e eu não posso ir
tem bingo e leilão de peru assado
tem barquinho e rolete de cana


Estou vestido de marinheiro
e só posso navegar no jardim


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Paulo Veras (Parnaíba, PI, 1953 - Fortaleza, CE, 1983), contista e poeta, publicou O Cabeça de Cuia (1979), Os corações devem ser jogados na lata do lixo (1983) e Maus antecedentes (1981, livro de poemas em parceira com Leila Miccolis).

Um comentário:

DE-PROPOSITO disse...

Estive por aqui.

Felicidades
MANUEL