segunda-feira, 27 de junho de 2011

Mulher e Pássaro




Voltamos ao jardim
ao banco lavado pela chuva.
Pedimos o verde ao verde
a flor à flor
sem quebrar-lhe a haste. Bastaria a manhã.
(Nossa presença
desalinha ar e folhas
num frêmito.)

Mas se nada pedimos
como quem dorme seguindo a linha natural
do corpo
respiramos o puro abandono:
um pássaro alveja o azul (sem par)
ultrapassa o muro do possível
e assim damos um ao outro
a súbita presença
do Céu.





[in Talhamar (1982)]

2 comentários:

Wanderson Lima disse...

Muito bom! Esse, Adriano, fui um legítimo achado. Não conhecia.

Adriano Lobão Aragão disse...

sublime. dora é simplemente sublime.