O último poema
[Manuel
Bandeira]
Assim eu
quereria meu último poema
Que fosse
terno dizendo as coisas mais simples
[e menos intencionais
[e menos intencionais
Que fosse
ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse
a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da
chama em que se consomem os diamantes
[mais límpidos
[mais límpidos
A paixão dos
suicidas que se matam sem explicação.
[50 poemas
escolhidos pelo autor. São Paulo: Cosac Naify, 2006, pág. 35]
O último poema
[João Cabral
de Melo Neto]
Não sei quem
me manda a poesia
nem se Quem
disso a chamaria.
Mas quem
quer que seja, quem for
esse Quem
(eu mesmo, meu suor?),
seja mulher,
paisagem ou o não
de que há
preencher os vãos,
fazer, por
exemplo, a muleta
que faz
andar minha alma esquerda,
ao Quem que
se dá à inglória pena
peço: que
meu último poema
mande-o
ainda em poema perverso,
de antilira,
feito em antiverso.
[Agrestes,
in: A educação pela pedra e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, págs 252-253]
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