sábado, 12 de novembro de 2016

Olavo Bilac & Adélia Prado


Via Láctea (XIII)
[Olavo Bilac]

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto

A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”


[Antologia Poética. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 28]



Subjeto
[Adélia Prado]

O cheiro da flor de abóbora, a massa de seu pólen,

para mim, como óvulo de coelhas,
 Vinde, zangões, machos tolos,
picar a fina parede que mal segura a vida,
tanto ela quer viver.
Ainda que não vou houvesse
eu fecundaria essas flores com meu nariz proletário.
 Ora, direis, um lírio ignóbil.
Pois vos digo que a reproduzo em ouro
sobre meu vestido de núpcias, meu vestido de noite.
Dentro do quarto escuro
ou na rua sem lâmpadas, de cidade ou memória,
um sol.
Como pequenas luzes esplêndidas.

[O coração disparado. In: Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015. p. 111] 

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